Saturday, April 13, 2013

Stazione Sottopassaggio



Essa é ridícula, mas vou contar mesmo assim. Já ouvi mil vezes que a melhor coisa a se fazer, quando a gente faz ou fala uma besteira, é tirar sarro de si mesmo. 

Então aí vai!

Em uma das vezes que fui pra Milão no ano passado, ver a minha Mocinha (que como eu, também é vira-lata meio italiana meio brasileira), fomos dar uma volta em Monza.

Pegamos o trem de manha, chegamos na cidade, que é super bonita e bem cuidada, e como as cidades pequenas na Itália, pararam no tempo, e fomos caminhar, tomar café, tirar foto de qualquer coisa no caminho, arvore, cachorro, placa de transito, placa com nome de rua, lojas, etc... Coisa de turista japonês.

Entramos numa livraria, esse é outro causo que eu não ia contar, mas agora vai também, e eu procurei um dicionário que meu pai tinha pedido.

Encontrei o dito cujo, preço impresso na contra capa 10 euros; Preço numa etiqueta em cima do preço sugerido 13 euros.

Humm... Pensei que esses truques de comerciante desonesto fossem coisas de Brasil, e pensei: “O que mermao? Você tá me tirando? Vai querer extorquir dinheiro desonesto da minha pessoa, no, no, no!”

Enquanto a minha Mocinha olhava outros livros, tirei a etiqueta e fui pro caixa. A menina passou o leitor e disse: “12 euros per favore”; e eu com a cara de espanto mais dura do mundo, respondi: “No, 10 euros!”; e apontei pro preço da contra capa.

A coitadinha olha pra mim e diz: “ah... si si... scuza, 10 euro”! E eu serio, paguei e saímos da loja.

Um minuto depois, contei pra dona Mocinha o que ela tinha acabado de fazer junto comigo, e fui criticado severamente, como se tivesse roubado comida de criança pobre! Ha ha!

Mentira, ela deu ma risada e ficou inconformada comigo dando golpinho na Europa. É essa é a vida glamorosa da Europa, vende o almoço pra comprar a janta; tira etiqueta do livro pra pagar mais barato.

Mas no final ela não reclamou muito porque com os dois euros que economizei, tomamos um café alto estilo, em pé, numa das ruazinhas charmosas de Monza.

Bom, voltando ao titulo desse texto, estávamos voltando de Monza pra Milão, e no trem, começamos a conversar e nos esquecemos do mundo.

Aí, de repente, não mais que de repente, o trem pára, abre as portas, e um casal passa correndo por nós perguntando: “Siamo arrivati a Milano Garibaldi?”

Pra quem não sabe, Garibaldi é uma grande estação em Milão, que tem conexões com outros trens, ônibus, etc, e está no miolo da cidade.

E aí a gente levanta e corre pra porta também, eu olho pra fora, leio uma placa e do alto da minha sabedoria no idioma da velha bota, encho o peito e digo cheio de confiança:

”No, No, siamo arrivati a SOTTOPASSAGGIO!”

Olho pra Carla, esperando que ela ficasse orgulhosa de mim por eu soltar o verbo em Italiano, e ela da uma gargalhada na minha cara!

Olho pro casal, e eles já haviam saído do trem, ignorando meu comentário. As portas já iam se fechando quando descemos também.

E eu sem entender nada de nada, pergunto pra Carla: ”Por que você ta rindo?”

E ela me diz: “Porque SOTTOPASSAGGIO quer dizer PASSAGEM SUBTERRANEA!”, e continua rindo de mim.

Olho pra indicação de novo, vejo uma escadaria quase igual a da foto no final desse texto, e penso: "Ki Burru! Ki burru!"

Que beleza! Você pensa que ta mandando bem em alguma coisa, e aí percebe que não sabe quase nada daquilo!

Fiquei com minha fluência, no Italiano, abalada até hoje. 

E sempre que nos lembramos dessa história, a Carla me olha com o olhar crítico, de quem é fluente no idioma, e pensa “Ki Burru! Ki Burru!”

Um trauma grande, provocado pela "Stazione Sottopassaggio", que eu ainda não superei! :)

Cheers!



1 comment:

Um Italiano no Brasil said...

Bonito relatorio, mesmo considerando que voce não conhecia muito do Italiano. Fazendo uma comparação, quando cheguei no Brasil não sabia nada de Português e depois de alguns anos durante meu tempo de trabalho na Tema Terra, fui acompanhar o Izidoro (motorista da Tema) que ia a São Paulo sempre aos sábados e eu não trabalhava aos sábados, portanto fui com ele uma vez pra conhecer São Paulo. Na Anhanguera eu via placas assinaladas de "RETORNO", e vi várias, então perguntei ao Izidoro onde ficava essa cidade de Retorno que aparece nas placas e ele se rachou de rir por todo o caminho até São Paulo e então me disse o significado da palavra que eu não conhecia mas foi um sarro e risadas pra semana inteira na Tema Terra,a turma me perguntava onde ficava a cidade de Retorno.