Essa é ridícula, mas vou contar mesmo assim. Já ouvi mil vezes que a
melhor coisa a se fazer, quando a gente faz ou fala uma besteira, é tirar sarro
de si mesmo.
Então aí vai!
Em uma das vezes que fui pra Milão no ano passado, ver a minha Mocinha
(que como eu, também é vira-lata meio italiana meio brasileira), fomos dar uma
volta em Monza.
Pegamos o trem de manha, chegamos na cidade, que é super bonita e bem
cuidada, e como as cidades pequenas na Itália, pararam no tempo, e fomos
caminhar, tomar café, tirar foto de qualquer coisa no caminho, arvore,
cachorro, placa de transito, placa com nome de rua, lojas, etc... Coisa de
turista japonês.
Entramos numa livraria, esse é outro causo que eu não ia contar, mas agora
vai também, e eu procurei um dicionário que meu pai tinha pedido.
Encontrei o dito cujo, preço impresso na contra capa 10 euros; Preço
numa etiqueta em cima do preço sugerido 13 euros.
Humm... Pensei que esses truques de comerciante desonesto fossem coisas
de Brasil, e pensei: “O que mermao? Você tá me tirando? Vai querer extorquir
dinheiro desonesto da minha pessoa, no, no, no!”
Enquanto a minha Mocinha olhava outros livros, tirei a etiqueta e fui
pro caixa. A menina passou o leitor e disse: “12 euros per favore”; e eu com a
cara de espanto mais dura do mundo, respondi: “No, 10 euros!”; e apontei pro preço
da contra capa.
A coitadinha olha pra mim e diz: “ah... si si... scuza, 10 euro”! E eu
serio, paguei e saímos da loja.
Um minuto depois, contei pra dona Mocinha o que ela tinha acabado de fazer
junto comigo, e fui criticado severamente, como se tivesse roubado comida de criança
pobre! Ha ha!
Mentira, ela deu ma risada e ficou inconformada comigo dando golpinho na
Europa. É essa é a vida glamorosa da Europa, vende o almoço pra comprar a
janta; tira etiqueta do livro pra pagar mais barato.
Mas no final ela não reclamou muito porque com os dois euros que
economizei, tomamos um café alto estilo, em pé, numa das ruazinhas charmosas de
Monza.
Bom, voltando ao titulo desse texto, estávamos
voltando de Monza pra Milão, e no trem, começamos a conversar e nos esquecemos
do mundo.
Aí, de repente, não mais que de repente, o trem
pára, abre as portas, e um casal passa correndo por nós perguntando: “Siamo
arrivati a Milano Garibaldi?”
Pra quem não sabe, Garibaldi é uma grande estação em
Milão, que tem conexões com outros trens, ônibus, etc, e está no miolo da
cidade.
E aí a gente levanta e corre pra porta também, eu
olho pra fora, leio uma placa e do alto da minha sabedoria no idioma da velha
bota, encho o peito e digo cheio de confiança:
”No, No, siamo arrivati a SOTTOPASSAGGIO!”
Olho pra Carla, esperando que ela ficasse orgulhosa
de mim por eu soltar o verbo em Italiano, e ela da uma gargalhada na minha
cara!
Olho pro casal, e eles já haviam saído do trem, ignorando meu comentário. As
portas já iam se fechando quando descemos também.
E eu sem entender nada de nada, pergunto pra Carla:
”Por que você ta rindo?”
E ela me diz: “Porque SOTTOPASSAGGIO quer dizer
PASSAGEM SUBTERRANEA!”, e continua rindo de mim.
Olho pra indicação de novo, vejo uma escadaria quase igual a da foto no final desse texto, e penso: "Ki Burru! Ki burru!"
Que beleza! Você pensa que ta mandando bem em alguma
coisa, e aí percebe que não sabe quase nada daquilo!
Fiquei com minha fluência, no Italiano, abalada até
hoje.
E sempre que nos lembramos dessa história, a Carla me olha com o olhar
crítico, de quem é fluente no idioma, e pensa “Ki Burru! Ki Burru!”
Um trauma grande, provocado pela "Stazione Sottopassaggio", que eu ainda não superei! :)
Cheers!