Continuando com o meu choque cultural reverso aqui na Terra
Brasilis, vou contar a última que aconteceu comigo na 5ª feira.
Fui num supermercado, de uma grande rede, comprar qualquer
coisa pra beliscar, escolhi uma porcaria que custava R$3,79, fui pagar, e já na
fila, me estressei com uma imbecil de uma tia que não conhece a lei da
distância mínima entre duas pessoas e ficava encostando o braço nas minhas
costas, acho que queria que a fila andasse mais rápido. Ignorei aquele ser e
continuei esperando a minha vez de pagar e sumir daquele lugar.
Notei que a música de fundo, que sempre foi clássica, era
uma m3rd4 de “eu quero tchum, eu quero tchá!” ou algo parecido...
Pensei comigo mesmo “esse supermercado já foi bom.”
Anyway, voltando ao que eu queria contar, chegou a minha vez
de pagar, a caixa passou o produto e, com a voz mais irritante do mundo, me
perguntou o que eu não aguento mais ouvir: ”-Cépééfi na nota môôôôçu?”
E eu: “-Não!”
Dou quatro reais pra caixa, em duas notas de dois reais, ela
me devolve duas moedas de dez centavos e não diz nem “obrigado” como manda a
boa educação, ou se ela não tem educação, como mandaria o gerente dela, afinal
meu dinheiro dá lucro pro estabelecimento e uma parte desse lucro serve pra
pagar o “ordenado” dela, mas acho que ela não deve ter noção disso.
Eu olho as duas moedas e pergunto: “- Está faltando um
centavo!”
A caixa responde quase gritando com aquela voz de maritaca
do bosque: ”-UM CENTÁÁÁVO!?”
Bom, pelo menos ela sabe fazer conta e sabe que tá me
devendo, pensei.
E ela continuando diz: ”- Eu não tenho um centavo môôôçu!
Ninguém tem um centavo.”
E eu respondo: “- Olha, se você não tem troco, me cobra 3,75
ou 3,70, sei lá, isso não é problema meu, é problema seu e do seu gerente que
não te abasteceu com moedas.”
Pra meu espanto, ela tira cinquenta centavos do bolso e me
dá, eu agradeço, mas digo que não quero 50 centavos dela, eu quero um centavo
do caixa do supermercado.
Nesse segundo, surge do além, uma mulher fantasiada de
supervisora, gerente, coordenadora de caixas, sei lá... e me pergunta qual é o
problema.
Eu respondo que não há problema, e que eu apenas quero meu
troco correto e que falta um centavo pra isso. A auto proclamada
supervisora-gerente-coordenadora me olha, vira os olhos pra cima de um jeito
que me fez lembrar a menina do exorcista, e eu já esperando que ela ia girar a
cabeça 360 graus, abre o caixa tira dez centavos e me dá, não sem antes me
perguntar, com ar de menosprezo, se estava bom assim.
Eu perguntei se ela não tinha mesmo um centavo, ela disse
que não, então eu peguei a moeda, agradeci, e me encaminhei pra saída daquela
espelunca que fedia flor velha, já que havia uma meia dúzia de flores, que
deviam estar lá por dias, sem vender. Nem fim de feira cheirava tão mal.
Quando eu estava a uns cinco metros do caixa, eu escuto a
caixa maritaca gritando: “- Espero que dure uma semana essa moeda!”
Hummmmm.... Quem me conhece, já sabe o que aconteceu.
Voltei e perguntei se ela estava falando comigo, e é claro
que ela disse que sim, já que estava protegida pela supervisora, por um outro
funcionário e pelo segurança do local, que se aproximou pra ver o que estava
acontecendo no começo da história.
Olhei bem pra eles e disse: Você devia dar mais valor pro
dinheiro, porque de um em um centavo, o seu patrão ficou bilionário, e acabou
de vender 2% da empresa por 10 milhões e quinhentos mil reais! Mas você nem
deve ter noção de quanto dinheiro é isso né!
Olhei com cara de merda pra ela, virei às costas e fui
embora!
Agora aqui, escrevendo este texto, fiquei pensando como as
pessoas tratam o dinheiro na Inglaterra. Todo mundo dá valor a um centavo.
Ninguém joga fora, ou deixa de troco esquecido nos lugares.
Aí vai um exemplo do valor de um centavo. Em Londres existem
mais ou menos 120 restaurantes McDonalds, com em média, 5 caixas registradoras,
em cada caixa existe uma caixinha de acrílico onde as pessoas podem depositar
moedas para a RMHC (Ronald McDonald House
Charities), que é uma instituição de caridade independente, mantida
apenas com os centavos depositados por clientes.
Fazendo um cálculo ridiculamente baixo, suponhamos que cada
caixa recebe 1 centavo a cada dez minutos, são 6 centavos por hora, vezes 10
horas de trabalho, são 60 centavos por dia, vezes 5 caixas por loja, temos 3
libras por dia, multiplicados por 120 restaurantes, chegamos à 360 libras por
dia. Em um mês são 10.800 libras, apenas em Londres!
Dinheiro que vem do nada, aliás, que vem de cada centavo
depositado, e não ignorado pela pessoa que o recebeu de troco. Melhor ainda se
pensarmos que vem de cada centavo, que a pessoa que estava trabalhando,
devolveu de troco pro cliente, e não simplesmente olhou com cara de azia e
disse: ”-Ninguém tem um centavú môôôçúúú!”, como aquela imbecil que eu tive o
desprazer de conhecer.
Outro exemplo, os bancos, de repente você olha seu extrato e
você foi debitado (pra não dizer roubado) em um centavo aqui, outro ali, mas
você nem esquenta em procurar saber o que foi aquele débito porque “ah, dá
muito trabalho e é só um centavo.”
Pra que se preocupar né, deixa pra lá... Mas se você pensar
num Itaú da vida, e só mencionei esse banco porque foi o primeiro que me veio à
cabeça, depois da fusão com o Unibanco, o Itaú somou mais de 15 milhões de
clientes!
Por aí você já sabe onde vou chegar.
Se o Itaú for bonzinho, e só tirar um desprezível e
insignificante centavinho da sua conta por dia , serão debitados trinta centavos por mês, multiplicados por quinze milhões de clientes, se prepare pra chorar, chegamos à soma de 4,5
milhões de reais criados do nada! Criados do pobre um centavo desprezado por
quase todo mundo.
Um centavo é dinheiro, e muito!!
Quando é que o povo
brasileiro, que se diz tão patriota e orgulhoso de ser brasileiro, vai começar
a dar valor em coisas básicas, como um centavo de troco?
Eu quero meu centavo de troco sim, e faço questão dele! E
todo mundo devia fazer o mesmo!!
Acorda Brasil!! Exija seu centavo, sempre!!
Cheers!
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